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La Proposta

Alguns dias atrás estreiou no Brasil uma comediazinha romântica chamada A Proposta (The Proposal, 2009) e eu gostaria de ocupar este espaço explicando porquê eu não a assistirei.
Como se o fato de ser protagonizado pela Sandra Bullock (Miss Simpatia? CRASH – No Limite?) não fosse suficiente, há uma outra razão, moral, pra minha recusa, que tem a ver com o plot.

O filme narra a história de uma executiva canadense que, ameaçada de deportação pela Segurança Nacional dos EUA, obriga seu assistente norte-americana a casar-se consigo, já que desse modo ela poderia estender seu Green Card. Ok. Problemas?

Essa história nunca seria sequer considerada se, ao invés de canadense, a protagonista fosse mexicana ou sul-americana. Quer dizer… o drama de mihares de imigrantes ilegais que lutam para permanecer em solo yankee, sentindo diariamente a mão pesada do preconceito, ganha tinturas coloridas, happy endings, pipoca e refrigerante, top 5 no box office e pura diversão, por causa de uma simples mudança de nacionalidade e de um branqueamento da pele.

Boicote.

LOL

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Comentários preliminares acerca do Oscar

Como todo mundo sabe, hoje, 22, foram anunciados os indicados ao Oscar 2009, com algumas surpresas e decepções, como é de praxe. Aqui vão alguns comentários preliminares e sucintos:

– O maior absurdo dessa vez foram as nada menos que 13 (sim, TREZE!) indicações para Benjamin Button. Mais do que o triplo do que eu daria. A Academia forçou particularmente a barra nas categorias de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado. E o pior é que parece que ele vai se sair bem, afinal quem não gosta de um épico vazio bem-feitinho, com ótimos efeitos especiais, e ainda mais com um ator que todo mundo ali viu crescer e amadurecer? Repetição de 2006, quando Brokeback Mountain perdeu de uma forma até hoje não esclarecida pra Trash… quer dizer, Crash.

– Eu também achei esquisita a indicação de Happy-Go-Lucky pra Roteiro Original e a falta da Sally Hawkins entre as melhores atrizes do ano, uma vez que o Mike Leigh diz que nunca começa um filme com roteiro e que as cenas acabam surgindo por um trabalho de atores, ensaiando durante meses sem cessar. E mesmo que haja um roteiro ali, não é grande coisa.

– Ficou faltando também uma indicação de Roteiro Adaptado pros irmãos Nolan, com o Batman.

– E Wall-E poderia estar no lugar de qualquer um dos indicados a Melhor Filme do ano.

Mudando o tom:

– Robert Downey Jr. pra Ator Coadjuvante. Eu ainda estou torcendo pro Heath Ledger, maaas o RDJr. é a segunda opção. Never go full retard.

– Richard Jenkins pra Ator. Ainda não vi The Visitor, mas ele é um ótimo ator e nunca conseguiu engatar em grandes papéis.

Eu ainda vou escrever mais sobre os filmes quando terminar de vê-los.

walleandeve2

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Le Cinéma – Parte 2

No meu último post sobre cinema neste blog – já, por incrível que pareça, passados 5 meses – eu tentei indicar algumas características da produção cinematográfica atual de Hollywood em comparação com a idade de ouro dos norte-americanos, os anos 50. O ponto de partida, se vocês não se esqueceram – ou se não tiverem preguiça de dar uma espiada um pouco mais abaixo – foi uma mesa-redonda dos críticos da Cahier du Cinéma, publicada em 1963. Já naquela época eu pretendia escrever uma parte 2, baseada em outro artigo na mesma edição da revista, com o ponto de vista dos diretores americanos ou aqueles que lá fizeram ninho. Mas isso vai ficar para depois.

Alguns diriam – como efetivamente disseram – que o meu texto anterior deixava de lado a parte mais importante do cinema e de qualquer outra forma de arte, aquilo cuja falta significa o fim da própria arte: o espectador, o fruidor. Mas, como diz o dito – perdoem o pleonasmo, é questão de estilo – nunca é tarde para se achar o remédio, e Hitchcock, Howard Hawks e cia. terão de esperar.

Ok. Vamos lá.

Como ponto de partida, tomo um texto de Theo Panayides, crítico cinematográfico do Cyprus Mail (sim, do CHIPRE!), blogger, e uma das pessoas mais sensatas a escrever sobre filmes na internet. O texto se chama The Fragmentation of Movie-Watching e trata do seguinte: ao comparar três listas de Top-tops do ano –  pelos críticos do NY Times, campeões de box-office e indicados ao Oscar – em 1952 e 1987, ele atenta para uma mudança essencial nelas que deve ter ocorrido em algum lugar desse período de 45 anos. É que em 1952 as três listas eram virtualmente iguais.

africanqueen1a_filmNa época em que o mundo ainda era feliz, as pessoas podiam ir ao cinema ver um filme qualquer e encontrar numa mesma sala todos os tipos de idades, classes, gêneros etc. Um filme, nos anos 1950, oferecia ao mesmo tempo material tanto para a reflexão de um público connoisseur quanto para o consumo superficial de um público que procura, no cinema, apenas escapar (um pouco) do mundo cotidiano. Na realidade, essa distinção seria uma quimera para a época. Ir aos “movies” significava não apenas assistir de forma passiva a um espetáculo imagético, mas participar de um modo de socialização, de uma coletividade, que alguns, inclusive, não hesitaram em ver como a portadora do embrião de uma mudança social mais ampla.

Mas em 1987 a situação é completamente outra. Na era de Reagan-Thatcher, da sociedade do consumo, o público cinematográfico tornara-se fragmentado. Os filmes não mais serviam como força conciliadora de classes e idades, mas passaram, cada vez mais, a se fragmentar, a princípio em dois grupos principais: os filmes adolescentes, dados ao público do “escapismo superficial”, e aqueles que caíam nas graças da crítica, “alternativos”, adultos. Com isso, sucesso em box-office passou quase a ser antônimo de filme bom, do ponto de vista especializado.

A mudança fundamental nesse quadro reflete duas tendências mais gerais da sociedade em que vivemos, isto é, o fechamento do indivíduo em si mesmo e o exagero de tudo o que pode ser consumido.

Em primeiro lugar, a individualização opera em praticamente todos os âmbitos de atividade, seja econômico, cultural ou social. Me parece extremamente sintomático que um número cada vez maior de pessoas prefira assistir filmes no aparelho de DVD ao invés de numa sala de cinema, algo que as distribuidoras e companhias de produção estimulam excessivamente com os special features nos filmes, com o que elas também não deixam de embolsar um quinhão. Mas, por outro lado, a individualização é signo de uma sociedade que está mais preocupada com as necessidades particulares de cada um, onde as padronizações e generalizações caíram por terra, algo que, a meu ver, é extremamente positivo.

Os filmes, nos anos 50, funcionavam como uma síntese cultural e social porque não se tinha muita escolha. E isso ocorria, não porque a produção fosse eventualmente menor do que agora – nas décadas de 40 e 50, havia uma média de 500 filmes por ano – mas por causa do próprio modo de produção dos estúdios (algo de que tratei em meu post anterior). Numa sociedade fragmentada, por outro lado, filmes “especializado” podem responder às necessidades de públicos singulares.

ramboiiiem2A outra tendência da qual falei foi a exploitation. Sejamos francos. Os EUA são, mais que qualquer outra coisa, a terra do exagero, do Super Size, de tudo o que é enorme e não cabe nos braços. Basta correr os olhos pelas prateleiras de qualquer supermercado norte-americano para ver as batatas-fritas Family Size, as Coca-Colas de 5L, etc etc. O impacto dessa característica na produção cinematográfica tem, a meu ver, um efeito duplo. Por um lado, os filmes são produzidos em ritmo frenético e não se consegue preservar a particularidade de cada obra, aquilo que as torna únicas e especiais – algo que está estritamente ligado com a minha concepção de qualidade. Desta forma, os filmes são convertidos em objeto de consumo superficial e descartável, e acabam por se distanciar do público atento. Pelo outro lado, o exagero interfere também na própria concepção dos filmes. É de cada vez mais sangue, cada vez mais carros explodindo, cada vez mais lágrimas, que temos necessidade. De modo que a singularidade de cada sentimento se torna outra coisa, que não tem mais valor.

O que acontece então?

A distância entre as audiências cresce e se torna insuperável, com a vantagem obviamente recaindo sobre a do “escapismo superficial”. Os outros, aqueles que se interessam um pouco que seja pelo cinema, que, mesmo não sendo conoisseurs, buscam algo de diferente e especial em cada filme, acabam por ser ignorados e têm que ir cada vez mais fundo em seus buracos. O problema, como adverte Theo Panayides, é que essa fragmentação é levada a tal ponto, que algumas partes se tornam muito pequenas e esotéricas, e deixam de ser viáveis economicamente. Caímos no paradoxo onde aqueles que mais são apaixonados pela arte cinematográfica são justamente aqueles que são obrigados a assistir a maior parte dos filmes num aparelho de DVD.

Mas agora eu gostaria de indicar alguns caminhos pelos quais acredito que podemos encontrar uma saída para essa situação.

Antes de tudo, o cinema é uma arte fundamentalmente coletiva. Os filmes são exibidos em salas com dezenas e até centenas de pessoas, e não se pode ignorar completamente essa característica no processo de produção. Eles são feitos para serem vistos por várias pessoas, o que torna a situação atual um tanto mais espantadora.

No entanto, nos últimos anos, tem havido um movimento generalizado contrário à individualização descomedida da sociedade. A deteriorização dos recursos ambientais, por exemplo, pede um esforço coletivo de sustentabilidade. As grandes religiões perderam credibilidade entre os fiéis, mas assistimos cada vez mais o surgimento de seitas e crenças religiosas independentes. Os grupos de homossexuais, negros, feministas etc. fazem cada vez mais um apelo não só à discriminação, mas à sua afirmação como um grupo social distinto – em outras palavras, eles não querem mais ser iguais aos outros, mas querem que suas diferenças sejam reconhecidas e respeitadas.

spike-lee-as-mars1A propósito desse último ponto, o cinema pode desempenhar um papel central na emancipação social desses grupos, além de se beneficiar diretamente, como arte, disso, porque há lugar para a singularidade de que falei antes. Hoje se fala em cinema negro, gay etc., quase que gêneros distintos, e a cada ano são realizadas mais e mais mostras e festivais de filmes com temáticas desse tipo. No entanto, me parece que ainda são poucos os que exploram as potencialidades da presença de negros, mulheres e homossexuais na produção dos filmes.

Para finalizar, como não poderia deixar de ser, temos de lembrar as exceções. Vez ou outra aparece um filme em Hollywood que consegue captar as expectativas dos mais variados grupos de audiência e faz lembrar o que o cinema foi algumas décadas atrás. São filmes que não escapam completamente aos imperativos de consumo frenético e apelo às massas – o que, na minha opinião, está estritamente relacionado com a presença de atores conhecidos – mas que por outro lado encontram linhas de fuga desse quadro e procuram imprimir as imagens dos filmes de forma mais duradoura na memória. Os exemplos são os mesmos do meu post anterior.

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Le Cinéma – Parte 1

Eu acredito sinceramente que as pessoas seriam mais felizes se fossem com maior frequência a uma biblioteca. Falo por experiência. Numa das minhas últimas idas, dei de cara com a coleção quase completa dos exemplares da Cahiers du Cinéma, desde o primeiro número (1951) até as décadas de 80 e 90. A sensação só é comparável a um gato arranhando seu primeiro sofá.

Folheando alguns exemplares (na realidade, procurando algo relacionado a The Birds de Hitchcock, isto é, por volta de 1963), encontrei uma edição especial por ocasião do 150o número da revista sobre o cinéma americain.

Ela inicia com uma mesa redonda entre sete “amigos” discutindo o estado contemporâneo de Hollywood e avaliando as mudanças ocorridas nos dez anos anteriores. Entre eles: Jacques Rivette, Claude Chabrol, Jean-Luc Godard e François Truffaut. (*UAU!*)

O principal era o seguinte: o modo de produção cinematográfico havia mudado essencialmente nas últimas duas décadas, sendo que os filmes deixaram de ser produtos de empresas (os grandes estúdios MGM, Paramount) para ganharem certa independência e se “individualizarem”. Eles foram emancipados à categoria de obras feitas por autores, à guisa do cinema europeu e isso, para eles, constituía o motivo cabal para o declínio na qualidade das produções contemporâneas.

Isso pode soar esquisito à primeira vista. Mas é explicado pela própria tradição cinematográfica de Hollywood. Os grandes estúdios contratavam um elenco de diretores, roteiristas e atores para desempenharem funções no interior de uma estrutura hierárquica que tinha o produtor no topo da pirâmide criativa. Isso garantia uma certa serialização de produções e tendências mais duradouras. Os filmes eram mesmo reconhecidos pelo estúdio de que faziam parte, porque estes estipulavam regras internas tanto formais como de conteúdo. Cada um deles era “especialistas” em um gênero.

A partir do momento em que os diretores dessa tradição tiveram de assumir um papel mais presente de “autor” e de controlar todos os elementos da produção eles não sabiam muito bem o que fazer. Daí a qualidade inferior dos filmes daquela época. O que eles amavam no cinema era justamente entrar na sala e saber desde o começo o que aconteceria no final. Era o savoir-farie, o know-how hollywoodiano. Quando os diretores e roteiristas passaram a gozar de maior liberdade em relação aos produtores, os filmes se intelectualizaram, por um lado. E perderam sabor.

Por outro lado, passou a vigorar a lógica do dinheiro. Se antes da mudança os roteiristas dispunham de uma certa segurança financeira assegurada pelo contrato e, por isso, tinham liberdade para criar dentro do quadro regral do estúdio, agora eles precisavam garantir seu ganha-pão (e outras coisinhas mais) por si próprios. Portanto, essa via de dois sentidos a que chamamos liberdade ao mesmo tempo que garantia , em princípio, um infinito de possibilidades criativas também o limitava, de acordo com a organização do consumo na sociedade capitalista. Um exemplo é a decaída no número de produções originais em relação às adaptações de livros, que passaram a figurar mais fortemente na sociedade americana da época como um objeto de consumo.

O que mudou de lá pra cá?

Na geografia do cinema, pouco. Talvez uma presença maior no mercado mundial de produções asiáticas e sul-americanas. As fronteiras também aqui tendem cada vez mais a se confundir umas com as outras, mas o quadro geral ainda é o mesmo.  Os Estados Unidos são responsáveis pela maior parte de filmes de grande orçamento e a Europa mantém o estigma de cultura intelectualizada, no que respeita à sétima arte.

A lógica do capital prevalece em Hollywood, com o financiamento de produções voltadas para o consumo e cuja palavra de ordem é “segurança”: esses filmes geralmente repousam na repetição de fórmulas bem-sucedidas tanto no cinema como em outros tipos de mídia. Daí o crescimento ainda maior de adaptações de livros, HQs e séries de TV, entre outros.

Quanto à questão da liberdade criativa fica mais difícil traçar um quadro geral. As produções permanecem “individualizadas” e a relação produtor-diretor/roteirista é definida filme a filme, e geralmente esses papéis encontram-se misturados. Cada vez mais vemos o letreiro “Um filme de…” antecedendo os créditos de um filme, o que daria ocasião para pensarmos na valorização da autoria; mas em grande parte dos casos  ela não passa de uma pompa ilusória, e são poucos aqueles que ainda desenvolvem estilos pessoais e reconhecíveis.

Os que têm sucesso, falando agora de qualidade, são em geral aqueles diretores/roteiristas que têm dinheiro suficiente para bancar as próprias produções ou aqueles que escolhem se adaptar a esse novo modo de produção cinematográfica, gozando de liberdade dentro dos limites impostos, liberdade esta que pode ter sua medida modelada pela própria “presença” ou “atitude” do diretor/roteirista frente ao produtor.

De qualquer forma, mesmo com todos esses elementos regendo a indústria do cinema nas últimas décadas, algum deles é capaz de explicar satisfatoriamente o surgimento de um Charlie Kauffman, de um Peter Jackson ou dos Coen? São três exemplos de “autores” que driblaram as regras, que encontraram brechas na própria lógica da produção cinematográfica hollywoodiana. São eles indícios de que há esperanças em um âmbito mais geral? A questão fica aberta.

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Lynch

David Lynch está fazendo um tour pelo Brasil para divulgar os benefícios da meditação transcedental, relatados no livro “Em Águas Profundas”, de sua autoria, bem como para colher o$ fruto$ de$$e trabalho. Eu, apesar de não nutrir o mínimo interesse pela meditação transcedental, decidi dar as caras pela Livraria Cultura, onde a palestra teve lugar aqui em São Paulo, pelo bem do meu fanboyzismo.

Cheguei às 12h em ponto, uma hora antes de serem distribuídos os ingressos para a palestra (160), que começaria às 15h. No entanto, eles se deram por egostados com 5 pessoas na minha frente, por ocasião daqueles sempre presentes lugares guardados por amigos. Acabou, por fim, surgindo um ingresso por desistência, e aí eu tive que tomar a decisão, por sinal não muito difícil, de escutar o que o Lynch tinha a falar sobre a tal da meditação e, possivelmente, seus filmes, ou ganhar um aperto de mão e um papel rabiscado.

A palestra, que teve duração de uma hora, pode ser resumida ao seguinte:

– O filme favorito do Lynch, ontem, quinta-feira, dia 8 de agosto de 2008, foi Lolita, do Kubrick;

– Se as pessoas praticassem meditação transcedental, elas compreenderiam melhor seus filmes;

– Direção de atores consiste em ter uma idéia acerca de uma personagem, ensaiar e dizer algumas palavrinhas a eles para que se aproximem dessa idéia. E o trabalho de um ator, propriamente dito, é enriquecer esta idéia, torná-la mais profunda;

– Meditação transcedental tem alguma coisa a ver com uma bola de consciência expandindo-se infinitamente, de onde tiram sua origem a criatividade, a paz, a felicidade, todas elas infinitas;

– Essa meditação consiste em tornar o olhar para dentro de si;

– Lynch faz comerciais para ganhar dinero, e propaganda em filmes é a coisa mais aterrorizante do mundo atual;

– O processo de criação de um filme consiste, primeiramente, em ter a vontade de transmitir algo. Em seguida, colher uma porção de idéias daquela bola de consciência até que uma lhe pareça correta, mesmo que seja uma idéia pequena em relação ao todo. Essa idéia é como a isca presa em um anzol, que se conectará à mandíbula de um peixe, dando origem a outra isca para um peixe maior, e assim sucessivamente;

– A criatividade não tem sua origem na dor, na depressão e na tristeza;

– Há muito stress na maioria das áreas urbanas do mundo;

– Seu mestre espitirual é o mesmo dos Beatles;

– David Lynch não sabe nada sobre David Lynch.

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O Cavaleiro das Trevas

O impacto maior desse filme em mim veio na forma de uma questão: O que é mais importante, a verdade ou o sentimento de justiça? Nolan aposta na segunda opção. A conclusão final da história é: enquanto os cidadãos de Gotham acharem que está tudo bem, que estão fazendo a coisa certa pelos meios certos, não tem problema, mesmo que não corresponda à verdade. Justifica isso por uma centelha de inspiração que esse sentimento pode despertar, inspiração para fazer o bem, para agir pelas formas moralmente corretas. O Batman não pode com isso. Pela própria maneira que escolheu agir, ele se depara com a impossibilidade de inspirar justiça propriamente dita nos outros. Ele tem um código moral próprio, diferente daquele que nós somos obrigados a aceitar, pelas leis civis. Sua única regra é não matar.

Pois é exatamente isso que quer o Coringa. Nas histórias em quadrinhos, o arqui-inimigo do Batman tem sua cara transfigurada por causa de um acidente químico do qual o próprio herói participou. Essa origem daria ocasião de pensar a vingança como a motivação principal do vilão. Mas no filme isso não aparece, ainda bem! O que o Coringa quer, primordialmente, é questionar a própria moral do Batman e dos cidadãos de Gotham. Quer dizer, para estes, espancar um criminoso, quebrar seus ossos, feri-lo, é algo considerado bom e justo, porque deixa a rua livre para o passeio noturno. Desde que a linha não seja ultrapassada; desde que não o matem. A morte de um outro é a corrupção maior, a queda daquilo que eles entendem por bem.

O plano mais geral do Coringa é revelar às pessoas o lado escuro de suas personalidades, que elas tentam a todo tempo empurrar para debaixo do tapete. Ele quer provar que todos nós queremos e ao mesmo não queremos jogar pelas regras. A representação mais clara (e óbvia) desse conflito vem com Harvey Duas-Caras. Ele é a consagração máxima do plano do palhaço, a completa realização da necessidade como determinante dos nossos valores e da nossa maneira de agir. “A única moralidade é o acaso”, diz Harvey. Mas o assunto não acaba aí: resta ainda a cena dos barcos.

No contexto do filme, ela seria a confirmação pública e em maior escala daquilo que o Coringa conseguiu provar com o Duas-Caras. Mas acontece que, no final das contas, nenhum dos barcos é explodido. Isso signfica que Harvey Dent é uma excessão, motivada por um trauma físico, psicológico, ou sei lá mais o quê; ele não representa a própria natureza do ser humano. De certa forma, essa conclusão nos leva de volta ao início deste breve texto: o que é mais importante, a verdade ou o sentimento de que tudo anda bem, obrigado? Ou poderíamos substituí-la por outra, tendo em vista nosso presente assunto: se fosse realidade, o que teria acontecido com os barcos? Porque sem dúvida, o Nolan arriscou o realismo do filme e a verdade ao filmar esta cena. Mas… isso importa?

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Por que estou fazendo isso?

Em primeiro lugar, é um exercício. De escrita? Não sei. De arrumar alguma coisa pra fazer? Isso não me falta. De ver quantos e quantas aqui virão? Não. Então o que? Bah!, o que importam essas perguntas?

Passemos ao segundo ponto: sobre o conteúdo deste blog. Não está perfeitamente definido (no que não me diferencio de nenhum outro blog), mas antecipo que farão parte dele, em maior escala escritos sobre pessoas, notícias, cotidiano, música, cinema, arte, e em menor, esportes e, na medida do possível, sobre mim mesmo.

Quanto ao nome, é o que nós, brasileiros, chamamos de dor de cabeça e os franceses, mal de tête. Demorei alguns minutos para escolhê-lo. É que, por um lado, a maioria dos nomes não me parecia boa o bastante, e por outro, penso que é so um nome e, mais ainda, é só um blog. Acabei me decidindo nesse por uma espécie de pessoalidade: tenho dores de cabeça quando escrevo. Principalmente quando não há prazo. Acredito que isso se dê por um conflito de interesses entre duas partes: uma que quer simplesmente escrever e a outra que quer escrever bem. Acho.

Por quê o francês, então? Porque é muito mais elegante que o português ou o inglês. Simples.

Enfim. Isto é apenas um preâmbulo que já se estendeu por demais para um blog que nem cor nem imagem nem nada tem. Antes de terminar, no entanto, há algo mais do qual eu gostaria de falar.

Este não é meu primeiro blog, mas o terceiro. Os outros me cansaram. Pode ser que aconteça o mesmo com este aqui, mas ele tem uma vantagem sobre os outros: não tenho mais receio de parecer pedante, nem a pretensão de manter uma rotina, e acredito que, por fim, a parte que quer simplesmente escrever acabará conquistando aquela que deseja escrever bem. Isso não é verdadeiramente um prejuízo, considerando que o que essa outra parte entende por bem é apenas aquele lugar comum de um texto dissertativo: impessoal, fundamentado, talvez argumentativo, e, por isso, limitado.

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