Ai, esses CSS…

…me dão dor de cabeça.

O que acharam?

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Le Cinéma – Parte 2

No meu último post sobre cinema neste blog – já, por incrível que pareça, passados 5 meses – eu tentei indicar algumas características da produção cinematográfica atual de Hollywood em comparação com a idade de ouro dos norte-americanos, os anos 50. O ponto de partida, se vocês não se esqueceram – ou se não tiverem preguiça de dar uma espiada um pouco mais abaixo – foi uma mesa-redonda dos críticos da Cahier du Cinéma, publicada em 1963. Já naquela época eu pretendia escrever uma parte 2, baseada em outro artigo na mesma edição da revista, com o ponto de vista dos diretores americanos ou aqueles que lá fizeram ninho. Mas isso vai ficar para depois.

Alguns diriam – como efetivamente disseram – que o meu texto anterior deixava de lado a parte mais importante do cinema e de qualquer outra forma de arte, aquilo cuja falta significa o fim da própria arte: o espectador, o fruidor. Mas, como diz o dito – perdoem o pleonasmo, é questão de estilo – nunca é tarde para se achar o remédio, e Hitchcock, Howard Hawks e cia. terão de esperar.

Ok. Vamos lá.

Como ponto de partida, tomo um texto de Theo Panayides, crítico cinematográfico do Cyprus Mail (sim, do CHIPRE!), blogger, e uma das pessoas mais sensatas a escrever sobre filmes na internet. O texto se chama The Fragmentation of Movie-Watching e trata do seguinte: ao comparar três listas de Top-tops do ano –  pelos críticos do NY Times, campeões de box-office e indicados ao Oscar – em 1952 e 1987, ele atenta para uma mudança essencial nelas que deve ter ocorrido em algum lugar desse período de 45 anos. É que em 1952 as três listas eram virtualmente iguais.

africanqueen1a_filmNa época em que o mundo ainda era feliz, as pessoas podiam ir ao cinema ver um filme qualquer e encontrar numa mesma sala todos os tipos de idades, classes, gêneros etc. Um filme, nos anos 1950, oferecia ao mesmo tempo material tanto para a reflexão de um público connoisseur quanto para o consumo superficial de um público que procura, no cinema, apenas escapar (um pouco) do mundo cotidiano. Na realidade, essa distinção seria uma quimera para a época. Ir aos “movies” significava não apenas assistir de forma passiva a um espetáculo imagético, mas participar de um modo de socialização, de uma coletividade, que alguns, inclusive, não hesitaram em ver como a portadora do embrião de uma mudança social mais ampla.

Mas em 1987 a situação é completamente outra. Na era de Reagan-Thatcher, da sociedade do consumo, o público cinematográfico tornara-se fragmentado. Os filmes não mais serviam como força conciliadora de classes e idades, mas passaram, cada vez mais, a se fragmentar, a princípio em dois grupos principais: os filmes adolescentes, dados ao público do “escapismo superficial”, e aqueles que caíam nas graças da crítica, “alternativos”, adultos. Com isso, sucesso em box-office passou quase a ser antônimo de filme bom, do ponto de vista especializado.

A mudança fundamental nesse quadro reflete duas tendências mais gerais da sociedade em que vivemos, isto é, o fechamento do indivíduo em si mesmo e o exagero de tudo o que pode ser consumido.

Em primeiro lugar, a individualização opera em praticamente todos os âmbitos de atividade, seja econômico, cultural ou social. Me parece extremamente sintomático que um número cada vez maior de pessoas prefira assistir filmes no aparelho de DVD ao invés de numa sala de cinema, algo que as distribuidoras e companhias de produção estimulam excessivamente com os special features nos filmes, com o que elas também não deixam de embolsar um quinhão. Mas, por outro lado, a individualização é signo de uma sociedade que está mais preocupada com as necessidades particulares de cada um, onde as padronizações e generalizações caíram por terra, algo que, a meu ver, é extremamente positivo.

Os filmes, nos anos 50, funcionavam como uma síntese cultural e social porque não se tinha muita escolha. E isso ocorria, não porque a produção fosse eventualmente menor do que agora – nas décadas de 40 e 50, havia uma média de 500 filmes por ano – mas por causa do próprio modo de produção dos estúdios (algo de que tratei em meu post anterior). Numa sociedade fragmentada, por outro lado, filmes “especializado” podem responder às necessidades de públicos singulares.

ramboiiiem2A outra tendência da qual falei foi a exploitation. Sejamos francos. Os EUA são, mais que qualquer outra coisa, a terra do exagero, do Super Size, de tudo o que é enorme e não cabe nos braços. Basta correr os olhos pelas prateleiras de qualquer supermercado norte-americano para ver as batatas-fritas Family Size, as Coca-Colas de 5L, etc etc. O impacto dessa característica na produção cinematográfica tem, a meu ver, um efeito duplo. Por um lado, os filmes são produzidos em ritmo frenético e não se consegue preservar a particularidade de cada obra, aquilo que as torna únicas e especiais – algo que está estritamente ligado com a minha concepção de qualidade. Desta forma, os filmes são convertidos em objeto de consumo superficial e descartável, e acabam por se distanciar do público atento. Pelo outro lado, o exagero interfere também na própria concepção dos filmes. É de cada vez mais sangue, cada vez mais carros explodindo, cada vez mais lágrimas, que temos necessidade. De modo que a singularidade de cada sentimento se torna outra coisa, que não tem mais valor.

O que acontece então?

A distância entre as audiências cresce e se torna insuperável, com a vantagem obviamente recaindo sobre a do “escapismo superficial”. Os outros, aqueles que se interessam um pouco que seja pelo cinema, que, mesmo não sendo conoisseurs, buscam algo de diferente e especial em cada filme, acabam por ser ignorados e têm que ir cada vez mais fundo em seus buracos. O problema, como adverte Theo Panayides, é que essa fragmentação é levada a tal ponto, que algumas partes se tornam muito pequenas e esotéricas, e deixam de ser viáveis economicamente. Caímos no paradoxo onde aqueles que mais são apaixonados pela arte cinematográfica são justamente aqueles que são obrigados a assistir a maior parte dos filmes num aparelho de DVD.

Mas agora eu gostaria de indicar alguns caminhos pelos quais acredito que podemos encontrar uma saída para essa situação.

Antes de tudo, o cinema é uma arte fundamentalmente coletiva. Os filmes são exibidos em salas com dezenas e até centenas de pessoas, e não se pode ignorar completamente essa característica no processo de produção. Eles são feitos para serem vistos por várias pessoas, o que torna a situação atual um tanto mais espantadora.

No entanto, nos últimos anos, tem havido um movimento generalizado contrário à individualização descomedida da sociedade. A deteriorização dos recursos ambientais, por exemplo, pede um esforço coletivo de sustentabilidade. As grandes religiões perderam credibilidade entre os fiéis, mas assistimos cada vez mais o surgimento de seitas e crenças religiosas independentes. Os grupos de homossexuais, negros, feministas etc. fazem cada vez mais um apelo não só à discriminação, mas à sua afirmação como um grupo social distinto – em outras palavras, eles não querem mais ser iguais aos outros, mas querem que suas diferenças sejam reconhecidas e respeitadas.

spike-lee-as-mars1A propósito desse último ponto, o cinema pode desempenhar um papel central na emancipação social desses grupos, além de se beneficiar diretamente, como arte, disso, porque há lugar para a singularidade de que falei antes. Hoje se fala em cinema negro, gay etc., quase que gêneros distintos, e a cada ano são realizadas mais e mais mostras e festivais de filmes com temáticas desse tipo. No entanto, me parece que ainda são poucos os que exploram as potencialidades da presença de negros, mulheres e homossexuais na produção dos filmes.

Para finalizar, como não poderia deixar de ser, temos de lembrar as exceções. Vez ou outra aparece um filme em Hollywood que consegue captar as expectativas dos mais variados grupos de audiência e faz lembrar o que o cinema foi algumas décadas atrás. São filmes que não escapam completamente aos imperativos de consumo frenético e apelo às massas – o que, na minha opinião, está estritamente relacionado com a presença de atores conhecidos – mas que por outro lado encontram linhas de fuga desse quadro e procuram imprimir as imagens dos filmes de forma mais duradoura na memória. Os exemplos são os mesmos do meu post anterior.

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Enquanto isso…

Israel continua atirando para todos os lados, estilo berserker, contra tudo e contra todos, como se tivesse acabado de sair de um daqueles gira-giras e não soubesse ainda pra onde andar. Não é surpreendente o fato de que 4 dos 7 – sim, QUATRO de SETE, mais da metade – dos soldados israelenses que, por assim dizer, caíram no campo de batalha até a manhã de hoje foram mortos por fogo “amigo”?

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Já ficou tão claro que não se trata mais de uma briga contra um grupo terrorista, mas de uma querela política motivada por um sentimento étnico, que os próprios israelenses já lavaram as mãos – não resisti ao trocadilho, hehe – frente à comunidade internacional, que continua tentando resolver o conflito de forma especialmente cautelosa, numa posição de crítica segura, sem ousar qualquer atitude mais direta. E sem resultado.

Aqui na América Latina, por outro lado, o Chávez, que gosta como ninguém de um oba-oba, decidiu expulsar o embaixador israelense da Venezuela. Eu mesmo, que nunca gostei muito dele, acho que ele acertou em cheio dessa vez. Eu desconheço o estado das relações mútuas, tanto diplomáticas quanto econômicas, entre os países, embora suspeite que não devam ser lá muito expressivas, ou o señor presidente teria sido um pouco mais cuidadoso. Mas mesmo assim… já passou do óbvio que esse conflito pede atitudes um pouco mais drásticas do que as que foram tomadas até agora, pela insistência de Israel em ignorar sumariamente qualquer resolução ou proposta de discutir uma trégua, e pelas consequências sofridas pela Faixa de Gaza nas últimas duas semanas. Basta uma passada de olhos pelas estatísticas: os mortos, de um lado, não passam de 20; do outro, são 800, dos quais 200 crianças.

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Sark

800px-sark-aerialEsta é a ilhota de Sark, parte da região administrativa de Guernsey (RU), situada no Canal da Mancha. Ela possui pouco mais de 600 habitantes, distribuídos numa área de aproximadamente 6 km², tem como idiomas oficiais o inglês e um dialeto local, o sercquiais, acabou de abolir o feudalismo, e suas principais… err, peraí. FEUDALISMO?

Sim. Sark foi o último território europeu a abolir o sistema feudal clássico, ou seja, a partir de 2008 a Europa pode ser declarada oficialmente livre da relação senhorio-vassalo, pelo menos formalmente.

Tudo começou quando dois magnatas-gêmeos ingleses, os irmãos Barclay, donos do Daily Telegraph e de um Ritz Hotal, decidiram comprar uma ilhazinha particular, Brecqhou, tão minúscula que poderia passar despercebida, onde instalaram sua casa, um castelo gótico no melhor estilo pós-moderno. O problema é que esse pedaço de terra ainda faz parte da jurisdição de Sark, ou seja, estava obrigado à proibição de qualquer veículo motorizado bem como à transmissão de propriedade apenas por hereditariedade e ao pagamento de um quinhão do negócio ao Senhor do feudo Jean Michael Beaumont, além de a outras leis proclamadas por Elizabeth I, em… err, meados do século XVI. Algo que deixaria qualquer proprietário do século XXI furioso.

Mas os Barclay foram espertos. Apelaram para a Convenção Européia dos Direitos Humanos, e a pequena ilhota britânica, parada no tempo, viu-se obrigada a dar um empurrãozinho para a modernização. Foram convocadas eleições gerais e após longa discussão que dividiu Sark entre os defensores do velho sistema e seus opositores, 474 votantes elegeram 28 (de 57 candidatos) representantes para escrever a nova constituição. Mas é justamente aqui que se dá a grande virada.

Apenas 5 entre os 28 eleitos apóiam formalmente a mudança de governo; a grande maioria é defensora ainda do antigo regime. Seja por causa da tradição, ou pelo sentimento de que os Barclay meteram o nariz onde não eram chamados, os sarkianos não queriam essa mudança. E isso tudo fica tanto mais confuso com as ameaças dos Barclay de se retirarem do lugar, junto com todos seus restaurantes e estalagens – cujo impacto na economia não seria de desprezar, já que quase 100 pessoas, ou 1/6 da população, ficariam desempregadas – e com as misteriosas publicações nos jornais locais de denúncias contra os defensores do feudalismo e elogios dos candidatos apoiados pelos bilionários.

O que sobra disso? Por um lado, uma população rural se utiliza de meios progressistas para garantir a manutenção de uma ordem arcaica. Por outro, os auto-denominados defensores da democracia se atém a métodos arcaicos de persuasão, para salvaguardar os próprios interesses. Total confusão de épocas, uns diriam.

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Retrospectiva 2008

Eu acho extremamente curioso que os meios de comunicação (em especial os audiovisuais), que têm por uma de suas principais funções “fazer esquecer”, acabar com a memória coletiva, se ocupem, a esta altura do ano, dos mais variados tipos de retrospectivas (só na página inicial do UOL são pelo menos 3), encenando, assim, aquilo que por consenso deve ser classificado como “notável” ou “digno de ser lembrado (por um dia)”. De qualquer forma, eu não vim aqui escrever sobre os pressupostos a priori deste tipo de programa, nem criticá-los com base nisso. As restropectivas, em geral, são bem divertidas.

Mas, como não poderia deixar de ser, há o grande problema – como em qualquer lista – de que uma parcela de acontecimentos “notáveis” acabam ficando de fora, por motivos diversos. O top 5 a seguir provavelmente não figurará na maioria dessas listas, mas nem por isso deixa de ser importante lembrá-los.

RETROSPECTIVA 2008

5. Prisão dos pixadores da Bienal do vazio

Se eu fosse curador de uma exposição de arte e decidisse deixar um andar do prédio onde ela seria feita completamente vazio, sem obras, o mínimo que eu poderia esperar é algum tipo de intervenção naquele espaço. Quer dizer, aquele andar vazio procurava discutir, a meu ver, tanto o formato daquela exposição – a economia dos espaços, a disposição das obras – quanto o estado da cultura atual em sentido amplo – seria ela tão dispensável a ponto de não conseguir preencher um prédio inteiro como aquele? Prender os pixadores que decidiram botar a mão ali é acabar com todo e qualquer tipo de discussão, além de esgotar toda a potencialidade crítica daquele espaço em uma interpretação unívoca e determinada; é fechar um espaço que se pretende livre. A suposta “radicalidade” da intervenção é uma falácia e não justifica, em medida alguma, essa prisão e muito menos ainda quando ela se estende por 50 dias (o Pitta, o Dantas e o Maluf ficaram presos por quanto tempo mesmo?). É tão absurda a idéia de prenderem pessoas que querem pintar uma tela branca, “livre”, que faz perguntar se a arte já não sucumbiu na totalidade a uma sociedade altamente regulamentada e controlada. E o pior foi o que passou em seguida, com a enrolação pra soltar a menina presa por 50 dias, em que uma grande parte de pessoas envolvidas no caso ficaram jogando um jogo de “comigo não morreu!”, e passando a bola para quem quer que aparecesse na frente.

4. Sargento gay

Não é per se o fato de ele ter se assumido. Isso não quer dizer absolutamente nada. Mas o Brasil provou mais uma vez ser um país onde igualdade de direitos é uma ficção, ao contrário de todas as expectativas. Grande parte do que se fala do país aqui dentro e lá fora é para louvar a falta de preconceitos, a “diversidade multicores” dos brasileiros, principalmente em termos de etnia e sexualidade. Afinal, a maior parada gay do mundo fica aqui e sabe-se que nós a-do-ra-mos os estrangeiros. Estrangeiros? Leia-se europeus e norte-americanos. Vão falar de “igualdade” para os bolivianos do centro de São Paulo. E pluralidade sexual? Desde que fiquem bem longe. É a única conclusão que podemos tirar quando, para dizer que é gay, um cara precisa ganhar uma matéria de capa numa revista de grande circulação e ir a um programa de TV sensacionalista. Mesmo que se leve em conta as particularidades do caso, ou seja, o fato de ele fazer parte de uma organização como o exército (que aliás está de parabéns por re-encenar todos os clichés institucionais), o grande circo não se justifica, afinal não me parece incomum que o desejo de práticas homoeróticas possa surgir num ambiente extremamente saturado do estereótipo de gênero masculino. Igualdade branca.

3. Batman

Tá. Alguns diriam: “Aí, você forçou a barra”. Mas há uma explicação…

Não, eu não acho que o Batman 2 foi o melhor filme de 2008, mas ele certamente foi o filme do ano. São coisas diferentes. O fato em si de ter arrecado perto de US$1 bilhão ao redor do mundo diz pouco, afinal entre os 10 primeiros campeões de arrecadação de todos os tempos (Batman 2 é o quarto), 8 foram lançados entre 2001 e 2008 – os outros 2, em ’97 e ’99. Ou seja, estamos acostumados com isso e o público consome indistintamente o que está aí. Nada de novo. Mas passando os olhos mais uma vez por essa lista, fica clara a diferença em qualidade entre os concorrentes. Com a possível exceção dos dois Senhor dos Anéis, todo o resto pode ser incluído na lista de blockbusters de verão apreendidos superficialmente por uma audiência desinteressada. E podem falar que o conceito de qualidade é, em última medida, subjetivo e etc. Mas quando um filme agrada o grande público, a crítica e a “cinefilia amadora especializada”, como esse Batman, há algo aí que deve ser avaliado objetivamente. E na verdade, isso tem se tornado cada vez mais raro – pra não dizer quase impossível – nos últimos anos.

2. Sapatada no Bush

Tá, esse provavelmente vai constar na maioria das listas, mas também aqui não pode ficar de fora. 2008 fica marcado como o fim do governo Bush, com direito a sapatada na cara, que representa nada menos que o saldo final da política externa norte-americana nos últimos 8 anos. E eu não estou colocando a questão em termos de vitória-mudança de Obama, pois mesmo que o McCain tivesse ganhado, provavelemente não colocaria os mesmos sapatos (sacaram o trocadilho?). Mas este foi o ano em que o governo Bush ficou, de certa forma, desmoralizado tanto pelas eleições e pela distância que ambos os candidatos manifestamente tomaram dele, quanto pela nova crise econômica mundial, cuja culpa caiu em grande parte na insustentabilidade de sua política interna. Dupla falha, portanto, que só ele, aparentemente, custa a reconhecer, continuando a dizer coisas do tipo: “Espero pelo julgamento da história” etc. E o fabricante está faturando uma grana com réplicas do sapato…

1. Governo alemão corta financiamento aos filmes (filmes?) de Uwe Boll

A flor-de-lis no meio do estrume. Fabuloso. Realmente – eu nunca havia me perguntado como esse cara conseguia dinheiro para fazer o que quer que seja aquilo que ele faz. Enigma resolvido. E quer dizer que o governo alemão acha agora que os “filmes” dele não dão retorno, que ele perde mais dinheiro do que ganha, e que não vão mais bancar os projetos? Se isso fosse o suficiente para que ele deixasse de produzir, tanto melhor, mas nem um abaixo-assinado de 10.000 foi capaz. Mas para nós, brasileiros, isso talvez realmente signifique seu fim. Porque, preso no limbo entre as grandes produções (que ele não consegue bancar – nem fazer) e as produções independentes (que ele consegue bancar, mas continua sendo incapaz de fazer), nem os nossos multiplex nem os nossos cinemas alternativos se ocuparão daquilo que ele faz. E vocês não acham espetacular como Uwe Boll sempre acha que consegue resolver seus problemas através de lutas de boxe (será que ele desafiou a Angela Merkel?)?

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Rá!

Peguei vocês.

Era só pra mostrar o novo logo. :mrgreen:

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Le Cinéma – Parte 1

Eu acredito sinceramente que as pessoas seriam mais felizes se fossem com maior frequência a uma biblioteca. Falo por experiência. Numa das minhas últimas idas, dei de cara com a coleção quase completa dos exemplares da Cahiers du Cinéma, desde o primeiro número (1951) até as décadas de 80 e 90. A sensação só é comparável a um gato arranhando seu primeiro sofá.

Folheando alguns exemplares (na realidade, procurando algo relacionado a The Birds de Hitchcock, isto é, por volta de 1963), encontrei uma edição especial por ocasião do 150o número da revista sobre o cinéma americain.

Ela inicia com uma mesa redonda entre sete “amigos” discutindo o estado contemporâneo de Hollywood e avaliando as mudanças ocorridas nos dez anos anteriores. Entre eles: Jacques Rivette, Claude Chabrol, Jean-Luc Godard e François Truffaut. (*UAU!*)

O principal era o seguinte: o modo de produção cinematográfico havia mudado essencialmente nas últimas duas décadas, sendo que os filmes deixaram de ser produtos de empresas (os grandes estúdios MGM, Paramount) para ganharem certa independência e se “individualizarem”. Eles foram emancipados à categoria de obras feitas por autores, à guisa do cinema europeu e isso, para eles, constituía o motivo cabal para o declínio na qualidade das produções contemporâneas.

Isso pode soar esquisito à primeira vista. Mas é explicado pela própria tradição cinematográfica de Hollywood. Os grandes estúdios contratavam um elenco de diretores, roteiristas e atores para desempenharem funções no interior de uma estrutura hierárquica que tinha o produtor no topo da pirâmide criativa. Isso garantia uma certa serialização de produções e tendências mais duradouras. Os filmes eram mesmo reconhecidos pelo estúdio de que faziam parte, porque estes estipulavam regras internas tanto formais como de conteúdo. Cada um deles era “especialistas” em um gênero.

A partir do momento em que os diretores dessa tradição tiveram de assumir um papel mais presente de “autor” e de controlar todos os elementos da produção eles não sabiam muito bem o que fazer. Daí a qualidade inferior dos filmes daquela época. O que eles amavam no cinema era justamente entrar na sala e saber desde o começo o que aconteceria no final. Era o savoir-farie, o know-how hollywoodiano. Quando os diretores e roteiristas passaram a gozar de maior liberdade em relação aos produtores, os filmes se intelectualizaram, por um lado. E perderam sabor.

Por outro lado, passou a vigorar a lógica do dinheiro. Se antes da mudança os roteiristas dispunham de uma certa segurança financeira assegurada pelo contrato e, por isso, tinham liberdade para criar dentro do quadro regral do estúdio, agora eles precisavam garantir seu ganha-pão (e outras coisinhas mais) por si próprios. Portanto, essa via de dois sentidos a que chamamos liberdade ao mesmo tempo que garantia , em princípio, um infinito de possibilidades criativas também o limitava, de acordo com a organização do consumo na sociedade capitalista. Um exemplo é a decaída no número de produções originais em relação às adaptações de livros, que passaram a figurar mais fortemente na sociedade americana da época como um objeto de consumo.

O que mudou de lá pra cá?

Na geografia do cinema, pouco. Talvez uma presença maior no mercado mundial de produções asiáticas e sul-americanas. As fronteiras também aqui tendem cada vez mais a se confundir umas com as outras, mas o quadro geral ainda é o mesmo.  Os Estados Unidos são responsáveis pela maior parte de filmes de grande orçamento e a Europa mantém o estigma de cultura intelectualizada, no que respeita à sétima arte.

A lógica do capital prevalece em Hollywood, com o financiamento de produções voltadas para o consumo e cuja palavra de ordem é “segurança”: esses filmes geralmente repousam na repetição de fórmulas bem-sucedidas tanto no cinema como em outros tipos de mídia. Daí o crescimento ainda maior de adaptações de livros, HQs e séries de TV, entre outros.

Quanto à questão da liberdade criativa fica mais difícil traçar um quadro geral. As produções permanecem “individualizadas” e a relação produtor-diretor/roteirista é definida filme a filme, e geralmente esses papéis encontram-se misturados. Cada vez mais vemos o letreiro “Um filme de…” antecedendo os créditos de um filme, o que daria ocasião para pensarmos na valorização da autoria; mas em grande parte dos casos  ela não passa de uma pompa ilusória, e são poucos aqueles que ainda desenvolvem estilos pessoais e reconhecíveis.

Os que têm sucesso, falando agora de qualidade, são em geral aqueles diretores/roteiristas que têm dinheiro suficiente para bancar as próprias produções ou aqueles que escolhem se adaptar a esse novo modo de produção cinematográfica, gozando de liberdade dentro dos limites impostos, liberdade esta que pode ter sua medida modelada pela própria “presença” ou “atitude” do diretor/roteirista frente ao produtor.

De qualquer forma, mesmo com todos esses elementos regendo a indústria do cinema nas últimas décadas, algum deles é capaz de explicar satisfatoriamente o surgimento de um Charlie Kauffman, de um Peter Jackson ou dos Coen? São três exemplos de “autores” que driblaram as regras, que encontraram brechas na própria lógica da produção cinematográfica hollywoodiana. São eles indícios de que há esperanças em um âmbito mais geral? A questão fica aberta.

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Heil Bücher!

Alguns dias atrás, este blog foi regalado com um gentil comentário, cujo autor atendia pelo nome de Arthur, acerca de um escorregão ortográfico no primeiro post aqui publicado. Referia-se ao verbo “estender”, o qual eu havia grafado com um x, ao invés do s, e eu gostaria de agradecer abertamente a preocupação do autor.

Infelizmente, acabei por excluí-lo da listagem de comentários, por considerá-lo irrelevante ao tema exposto no post e por entendê-lo como uma dica pessoal para que o corrigisse.

Mas havia também uma afirmação do Arthur que me chamou a atenção e que vale a pena colocar aqui. Apesar de eu não ser capaz de reproduzi-la integralmente, acredito estar sendo fiel ao conteúdo se a enunciar da seguinte maneira: “A meu ver, aquele que se propõe a escrever deve conhecer a língua”.

Hei de protestar contra o terrível, para não falar injusto, descaso que Arthur demonstrou para com a profissão de revisor.

Ora, é um ofício quase tão antigo quanto o de redator, ou escritor, e, certamente, tão copioso quanto o número de obras literárias publicadas. É exigido do revisor de textos um conhecimento abrangente e rigoroso de obras literárias e da norma culta vigente, que, por sinal, sofre alterações com maior frequência de que sabemos, além de uma formação acadêmica que compreende uma graduação e, às vezes, uma pós-graduação. Existe até um dia, 28 de março, dedicado a esses profissionais, para se ter uma noção de sua importância no âmbito da cultura literária mundial.

E o que dizer das pobres criancinhas e daqueles que não seguiram uma educação gramatical rigorosa? E daqueles que, simplesmente, querem ser mais livres? De agora em diante, não podem mais escrever. Afinal, a literatura é uma arte essencialmente pragmática, não é?

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Lynch

David Lynch está fazendo um tour pelo Brasil para divulgar os benefícios da meditação transcedental, relatados no livro “Em Águas Profundas”, de sua autoria, bem como para colher o$ fruto$ de$$e trabalho. Eu, apesar de não nutrir o mínimo interesse pela meditação transcedental, decidi dar as caras pela Livraria Cultura, onde a palestra teve lugar aqui em São Paulo, pelo bem do meu fanboyzismo.

Cheguei às 12h em ponto, uma hora antes de serem distribuídos os ingressos para a palestra (160), que começaria às 15h. No entanto, eles se deram por egostados com 5 pessoas na minha frente, por ocasião daqueles sempre presentes lugares guardados por amigos. Acabou, por fim, surgindo um ingresso por desistência, e aí eu tive que tomar a decisão, por sinal não muito difícil, de escutar o que o Lynch tinha a falar sobre a tal da meditação e, possivelmente, seus filmes, ou ganhar um aperto de mão e um papel rabiscado.

A palestra, que teve duração de uma hora, pode ser resumida ao seguinte:

– O filme favorito do Lynch, ontem, quinta-feira, dia 8 de agosto de 2008, foi Lolita, do Kubrick;

– Se as pessoas praticassem meditação transcedental, elas compreenderiam melhor seus filmes;

– Direção de atores consiste em ter uma idéia acerca de uma personagem, ensaiar e dizer algumas palavrinhas a eles para que se aproximem dessa idéia. E o trabalho de um ator, propriamente dito, é enriquecer esta idéia, torná-la mais profunda;

– Meditação transcedental tem alguma coisa a ver com uma bola de consciência expandindo-se infinitamente, de onde tiram sua origem a criatividade, a paz, a felicidade, todas elas infinitas;

– Essa meditação consiste em tornar o olhar para dentro de si;

– Lynch faz comerciais para ganhar dinero, e propaganda em filmes é a coisa mais aterrorizante do mundo atual;

– O processo de criação de um filme consiste, primeiramente, em ter a vontade de transmitir algo. Em seguida, colher uma porção de idéias daquela bola de consciência até que uma lhe pareça correta, mesmo que seja uma idéia pequena em relação ao todo. Essa idéia é como a isca presa em um anzol, que se conectará à mandíbula de um peixe, dando origem a outra isca para um peixe maior, e assim sucessivamente;

– A criatividade não tem sua origem na dor, na depressão e na tristeza;

– Há muito stress na maioria das áreas urbanas do mundo;

– Seu mestre espitirual é o mesmo dos Beatles;

– David Lynch não sabe nada sobre David Lynch.

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Really!?!

O Weekend Update do Saturday Night Live, atualmente apresentado pela brilhantíssima Amy Poehler e pelo não-tão-brilhantíssimo-assim Seth Meyers, reserva esporadicamente alguns minutos da sketch a um quadro chamado Really!?! with Seth & Amy, no qual eles selecionam alguma coisa declaradamente estúpida que tenha acontecido no país recentemente nas mãos de uma celebridade (geralmente política), e estupram-na por falta de bom senso.

Foram premiados:

– Larry Craig, senador ultra-conservador republicano, que foi preso num banheiro de aeroporto acusado de solicitar práticas sexuais a outro homem e depois se recusou a deixar o cargo;

Eliot Spitzer, ex-governador de Nova York, cliente de uma rede de prostituição sob mira do governo federal;

– Alberto Gonzales, ex-promotor geral do governo Bush, afundado em uma série de acusações de perjúrio, violações do FBI, etc.

Entre outros. Mas isso foi apenas uma introdução.

***

Juntando a falta de programas de humor realmente engraçados e alguns feitos do povo brasileiro que não merecem ficar sem atenção, eu decidi inaugurar neste blog, a partir de hoje, uma sessão intitulada Really!?!, dedicada aos acontecimentos do Brasil e do mundo que faz-nos desconfiar uma falha aqui e ali no processo evolutivo.

E como primeiro candidato, na forma também de uma homenagem, pois ele foi enterrado na última sexta, escolho o reverendo Adelir de Carli, morto no primeiro semestre ao tentar quebrar o recorde de permanência no ar, preso em balões de hélio.

***

Padre Adelir, really!?! O senhor realmente considerou razoável a idéia de se pendurar em balões de festa, e levantar vôo? Really!?! Nunca pensou que assim, tipo, talvez, quem sabe, alguns desses balões poderiam… estourar? Ou vai me dizer que o senhor nunca foi a uma festa infantil? Não lembra como as criancinhas de 4, 5 anos brincavam de estourar balões umas nos ouvidos das outras? E numa dessas festas, o senhor realmente nunca notou como era fácil estourá-los? Really!?! Mas tudo bem. Suponhamos que realmente seja possível se pendurar em balões a uma altitude de 6 mil metros e não morrer. Tudo bem. Mas não é ao menos necessário estudar um pouco, fazer algum curso de vôo, e não ser convidado a se retirar dele? Ou o senhor realmente achou que podia sair voando por aí com apenas 10% das aulas feitas, really!?! E além disso, se eu não estou enganado, qualquer pessoa que tenta voar hoje em dia, dentro ou fora de um avião, sabe usar um aparelho de GPS. Quer dizer, qualquer pessoa que gasta US$150 com um aparelho de GPS lê o manual de instruções. Really!?! Talvez o teu, por um defeito de fábrica, tenha vindo sem o manual, né? Mas antes de qualquer coisa, padre Adelir, uma pessoa que tente voar dentro ou fora de um avião não deve, antes de levantar vôo, verificar as condições climáticas, por assim dizer? E, really!?!, o senhor nunca ouviu falar que não é recomendável voar com o tempo fechado, nuvens, vento e chuva? Nunca ouviu falar de acidentes nessas condições? Ou o senhor achou realmente que quando te avisaram que o vento soprava na direção contrária a que o senhor pretendia seguir, seus acessores realmente quiseram dizer a favor? Mas, antes de terminar, se o senhor pretendia entrar em contato com sua equipe de apoio, não seria bom, talvez, ter carregado o celular na noite anterior, really!?! Really!?! Really!?!

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